Análise: Santos x Avaí e liderança no Campeonato Brasileiro

O jogo não teve muita novidade. É claro que o lanterna da competição, diante do, até então, vice-líder, buscou se fechar na defesa e explorar os contra-ataques. Enquanto isso, o Santos foi com força total para o ataque, se expondo defensivamente, mas os resultados foram favoráveis. Antes de o relógio marcar 10 minutos de jogo, Derlis González soltou o pé de dentro da área e abriu o placar, se aproveitando de bola mal afastada pela defesa adversária.

No entanto, mesmo com o bom início, as coisas não se mostraram tão fáceis para o Santos. Primeiro foi a falta de Alisson, em que a arbitragem soltou o cartão amarelo tanto para o volante, como para o treinador, que está suspenso do próximo jogo, na Vila Belmiro, contra o Goiás. Para piorar, o Avaí cresceu na partida e não demorou para deixar tudo igual no placar. Aos 27 minutos, Léo avançou pelo lado direito e fez o cruzamento: a bola passou por toda a entrada da área até chegar aos pés de João Paulo, que mandou de primeira para o fundo da rede.

A resposta do time da casa veio cinco minutos. Soteldo fez grande jogada individual pelo lado esquerdo, deixou a defesa do Avaí perdida e fez levantamento milimétrico na cabeça de Sánchez, dentro da área, para o uruguaio colocar o Santos outra vez na frente. O peixe acabou diminuindo o ritmo nos minutos finais do primeiro tempo, até para que não fosse surpreendido mais uma vez pela equipe catarinense.

Na volta do intervalo, o jogo recuperou a intensidade e o planejamento inicial: enquanto o Santos saía em busca do gol para dar tranquilidade, o Avaí explorava contra-ataques para empatar o jogo. Quem começou pressionando foi o Peixe, em tentativas de Eduardo Sasha e Marinho, nas quais o goleiro Lucas Frigeri praticou verdadeiros milagres.

Por outro lado, quando Gegê recebeu com espaço dentro da área e girou bem para fazer boa finalização, Éverson se esticou inteiro para evitar o empate do Avaí. Como resultado, Felipe Jonathan, que entrou muito bem na segunda etapa, deu chapéu na entrada da área e, na hora da finalização, o desvio na zaga foi crucial para a bola encobrir o goleiro e terminar no fundo da rede: 3 a 1 para o Santos, placar final. Como o Palmeiras ficou no empate com o Vasco no sábado, a equipe santista assumiu a ponta com 29 pontos, dois a mais que o rival.

DEPOIS DE QUASE 15 ANOS, SANTOS ASSUME LIDERANÇA DO BRASILEIRÃO

Já na última rodada, a equipe de Jorge Sampaoli havia empatado em número de pontos com o Palmeiras, no topo da tabela da competição. No entanto, por conta dos gols marcados, o time da capital paulista se manteve com a primeira colocação. Mas bastou a chegada de mais uma rodada para que o Santos, com agora dois pontos de vantagem, assumisse a liderança isolada do Brasileirão, algo que não acontecia desde 2004, ano em que o time santista acabou ficando com o título.

A edição foi acirrada entre o Santos e o Athletico Paranaense, do artilheiro Washington, que marcou 34 gols, 12 a mais que Deivid, do Santos. Mesmo assim, a equipe do Paraná terminou três pontos atrás do alvinegro praiano. Atualmente, ambas as equipes vivem grande fase: enquanto o Santos é líder do Campeonato Brasileiro, o furacão se mantém na briga por uma vaga no campeonato nacional, além de estar vivo na Libertadores e nas semifinais da Copa do Brasil.

É evidente que o compromisso no trabalho feito pela diretoria dos clubes é fundamental, mas os treinadores também fazem toda a diferença. Desde a saída de Neymar, o Santos mantém sua força no campeonato estadual, o qual já não conquista desde 2016, mas havia se tornado coadjuvante nas demais competições. Mas essa situação parece mesmo ter ficado para trás.

_{Memória: Santos conquistava o Campeonato Brasileiro pela oitava vez (2004)}

POUCO GASTO E MUITO RECURSO

O presidente José Carlos Peres assumiu o clube em 2018 e sempre foi alvo de críticas, apesar de nunca ter comprometido o clube. Primeiramente, apostou em Jair Ventura, que se classificou na liderança de seu grupo, na Libertadores, se manteve firme na Copa do Brasil, mas terminou demitido principalmente por conta de seu estilo defensivo, que vai totalmente de encontro ao que o clube e a torcida acreditam.

Foi assim que o presidente entrou em acordo com Cuca, que manteve o time no meio da tabela do Campeonato Brasileiro, perdeu nos pênaltis, nas quartas de final, para o campeão, Cruzeiro, na Copa do Brasil, e foi prejudicado na Libertadores ao escalar jogador suspenso e perder por 3 a 0 no W.O.. Enquanto isso, Jorge Sampaoli extraia o máximo de uma Argentina mal estruturada e desorganizada na Copa do Mundo, perdendo apenas para a França, por 4 a 2, nas oitavas de final.

E foi então que os caminhos de ambos se cruzaram. O técnico argentino estava frustrado pela campanha e por ter deixado o comando da seleção sem obter sucesso, e o presidente do Santos precisava buscar um treinador com capacidade, planejamento, e de estilo de jogo que se encaixa com o clube: ofensivo.

Como uma mão lava a outra, Jorge Sampaoli foi anunciado para comandar a equipe santista em 2019. Carlos Peres anunciou que o investimento era com pensamento a longo prazo, ou seja, a expectativa era de que o trabalho fosse feito agora, para que os frutos fossem colhidos no futuro, em 2020 segundo o presidente.

A torcida do Santos poderia não ter tido a mesma paciência que o presidente, mas o treinador argentino caiu nas graças dos santistas. Mesmo tendo sido eliminado pelo Corinthians na semifinal do Campeonato Paulista, os torcedores e a imprensa ficaram com a impressão de que a derrota teve sabor de vitória por conta do que foi mostrado dentro de campo. A eliminação teve sabor de título, pois ficou evidente o crescimento da equipe, que amassou do início ao fim o Corinthians de Fabio Carille, o qual possui trabalho longo no clube.

Mas o Santos foi ainda eliminado da Sul-Americana e da Copa do Brasil, só que os resultados não atrapalharam o foco posto pelo presidente e comprado tanto pelo treinador e seus jogadores, como pela torcida: colher os frutos em 2020. Como resultado, parece que não será preciso esperar tanto. Na frente de Palmeiras e Flamengo, o Santos vem mostrando que o trabalho sério da diretoria, com competência do treinador e dedicação de seus atletas, apoiados por seus torcedores, podem ser ainda mais poderosos do que o dinheiro.